Dama de Vermelho
4ª Crônica – Volume 1
Fobias e Fetiches – Parte 2
May Campbell colocou a mão na maçaneta da porta de entrada de seu pequeno apartamento no centro de Las Vegas e abriu a porta. Lá dentro ela viu dezenas de velas vermelhas iluminando o aposento, muitas bonecas – desde Barbie’s e Betty Boop’s a bonecas infláveis e eróticas -, cinco gigolôs fortes e bronzeados estavam deitados nus no sofá verde-limão e Lily vestindo uma calçinha azul e uma justa regata da Betty Boop sentada no chão assistindo TV.
A Dama de Vermelho largou sua bolsa no chão passando o olhar por cada uma das bonecas dispostas na sala. Lily levantou-se para receber sua amiga.
_Que tal a surpresa? Eu provei cada um dos garotões ali! – cochichou.
May começou a tremer ainda fitando as bonecas.
_May? – a farmacêutica deu leves batidinhas no rosto da colega – May Campbell!!
_AAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHH!!! - a dona do apartamento gritou assustadíssima.
_O que foi? – indagou Lily atordoada.
_As bonecas... – May susupirou profundamente – As bonecas...! AS BONECAS!!! – gritou, urinando nela mesma.
_Gatos! – chamou a farmacêutica seminua – Levem todas as bonecas para fora, por favor, e não precisa mais voltar.
Os gigolôs vestiram-se, recolherem todas as bonecas e se foram rapidamente. Lily preparou um chá verde bem quente para sua colega e se vestiu com um roupão branco com desenhos de borboletas em vermelho.
_Precisamos conversar. Você precisa me explicar o que foi isso. Era nossa chance de ter uma noite inesquecível!
_Eu tenho pediofobia! – anunciou May.
_E o que é isso? – perguntou sua colega sentando-se ao seu lado no sofá.
_Quando eu era criança e morava com a minha tia Anna no Brooklin, em Nova York, ela teve um namorado que trabalhava como garçom em um restaurante no bairro. Todos os dias ele ia ver minha tia e levava uma boneca, todo dia! Minha tia tinha alergia ao produto de que as bonecas eram feitas e ela as colocava no meu quarto. Eles namoraram por nove meses e durante nove meses eu ganhei bonecas todos os dias! Eu queimei algumas, dei descarga em outras, doei dezenas ..., enfim, meu quarto era doentiamente decorado por mais de cento e cinqüenta bonecas dos mais variados tipos! No começo eu gostava, mas o que me deixou traumatizada foi o fim do namoro deles: minha tia brigou com o namorado dela e eles ficaram uma semana sem se verem e no domingo – o oitavo dia – de madrugada Tom, como ele se chamava, tocou a campainha do nosso apartamento e quando minha tia atendeu a porta ele a espancou. Minha tia chorava e gritava de desespero, até que eu acordei e vi toda aquela cena; o rosto dela ficou deformado: ela cuspia sangue e sua boca estava rasgada, seu nariz estava quebrado e sangrava muito, o olho direito estava parte roxa e parte esverdeada, no pijama tinha uma mancha de sangue abaixo do seio e na canela da perna esquerda, dois de seus dedos da mão esquerda estavam muito roxo... Eu me lembro como se fosse hoje! A partir desse acontecimento, toda e qualquer boneca me lembra aquele acontecimento que eu preferia apagar...! Pediofobia é medo de boneca!
_Sua tia morreu? – indagou Lily comovida.
_Não.
Silêncio. Nenhuma das duas chorava.
_Obrigada. – agradeceu May – Obrigada pela surpresa – seja ela boa ou ruim! Sua intenção foi boa. – disse esboçando um sorriso.
_De boa intenção o inferno está cheio!
Ambas caíram na gargalhada.
_Parecemos amigas, não parecemos?!?! – comentou a Dama de Vermelho.
As farmacêuticas riram ainda mais.
Arthur Araujo
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